5.10.06

5 de Outubro de 1999 (ou Uma história de amor ao contrário)

Tinha 20 aninhos e estava no 2º ano da Faculdade de Direito de Lisboa.
Como tinha uma grande amiga minha a estudar na Covilhã, como tinha acabado a minha primeira (e longa) relação e estava entediada resolvi ir passar o fim-de-semana prolongado com a M..
Depois de uma viagem extenuante de 5h enfiada no intercidades quando cheguei à Covilhã apaixonei-me perdidamente pela cidade. Pelas pessoas. Conheci imensos amigos/as da M. duma assentada e para dar as boas vindas aqui à Je foi jantarada na casa da S. até não haver mais vinho (e éramos mais de 15 e cada um de nós levou 3 garrafas de vinho)! Depois do jantar lá fomos correr as tasquinhas da cidade e foi uma das noites mais divertidas que tive. A noite acabou num bar lá do sítio e entre amena cavaqueira houve alguém com quem comecei a falar muito bem. O A..
No dia seguinte era dia de recepção aos caloiros da UBI e eu lá fui com eles. Praxes absolutamente nada desenquadradas. Aliás como naquele sítio os estudantes são praticamente todos deslocados há uma preocupação em receber bem os novos alunos que acabaram de sair das suas terras.
Durante as praxes eu e o A. aproximá-mo-nos muito. Inclusivé passei o dia todo a ouvir os caloiros recitarem-me poemas de amor a mando dele. Sempre muito galanteador, simpático e respeitador. Nessa noite, enrolá-mo-nos. O resto dos dias foram fantásticos.
Quando voltei para casa não paravam os toques, as sms e os telefonemas. O que podia ter sido uma aventura de alguns dias não morreu com a distância.
No mês seguinte voltei à Covilhã, desta vez descaradamente para o ver e estar com ele. Embora ele estudasse na Covilhã era de Coimbra e só ia à faculdade alguns dias por mês. Começámos a combinar que as idas dele coincidiriam com a minha disponibilidade de também lá ir.
Quando não estávamos juntos eram sms, telefonemas e até CARTAS que nos uniam.

Num dia no final de Dezembro estava eu em casa quando toucou o telefone fixo.
- Bom dia. Eu posso falar com a Maria Papoila?
- Sou eu. Quem fala?
- Sou a namorada do A.! Há 7 anos!

Fiquei sem fala. Eu não sabia que ele tinha namorada! Fiquei ultrajada. Como é que alguém se atrevia a fazer-me uma coisa daquelas? Combinei com ela que ela iria ter com ele, eu ligaria para o telemòvel DELA e pediria para falar com ELE. Para que ele visse que nós não éramos parvas! Assim fizémos. Ele ficou perplexo, eu chamei-lhe tudo e ela também. Ela acabou tudo com ele e eu também.
No entanto os telefonemas de perdão dele tornaram-se insistentes. Que já não gostava dela, que queria ter acabado tudo antes, blábláblá!

Nessa passagem de ano estava tão em baixo que a passei com os meus pais. Logo a seguir à meia-noite ele liga-me e implora-me que o deixe ir ter comigo a Lisboa. Acedi, convicta que o ia humilhar!
No dia 2 de Janeiro encontrei-me com ele e, quando dei por mim, tinha acabado de receber um anel e acedido ao seu pedido formal de namoro.

Começámos a namorar. Eu aqui e ele em Coimbra. Só nos víamos ao fim-de-semana. Ele frequentava e dormia na minha casa e eu na dele.

Para abreviar, não demorou muito para que começassem a surgir os primeiros indícios de sociopatia. Ciúmes doentios, controlava-me à distância, eu não podia falar com rapazes, tinha que lhe dar um toque do telefone fixo sempre que chegava a casa e não podia saír, porque ele ligava para casa para saber se eu lá em casa ou não.
Estava presa na minha própria casa controlada à distância.
Como era ingénua, tola apaixonada, achei que essa desconfiança era só insegurança por estarmos longe e ter medo de me perder, uma vez que quando estávamos juntos era tudo diferente.
No entanto, até isso deixou de acontecer. As mentiras e as humilhações (algumas públicas a que me sujeitou - e a que eu me sujeitei) tornaram-se uma constante. Comecei a perceber que o medo que ele tinha que eu o enganasse era apenas o medo que tinha que eu lhe fizésse o mesmo que ele me fazia a mim.
Foi assim durante um ano. Um dia torceu-me os dedos porque meteu na cabeça que eu não podia comer um pastel de nata. Fiquei com os dedos negros e obrigou-me a dizer aos meus pais que os tinha entalado na porta do carro. Noutro dia era outra coisa qualquer. A vilência era física, mas sobretudo psicológica. Deixei de me relacionar com todos os meus amigos e com toda e qualquer pessoa.
Demorei muito a abrir os olhos. Um ano. Foi preciso ele estar em cima de mim a asfixiar-me e eu ter que lhe arranhar a cara para conseguir fugir para perceber o que me estava a acontecer. Só o vi mais uma vez, muito tempo depois para lhe dizer que o odiava (porque ele continuava a ligar a dizer que me amava e a pedir desculpa).

Odeio-o e esse ódio nunca vai passar.
Desenganem-se os tolos românticos quando dizem que o amor e o ódio andam de mãos dadas. Que o que conta é a indiferença. Nada disso, a indiferença é para quem não odeia, para quem afinal até nem se magoou assim tanto.
Odeio-o e muito. Se o visse na rua a pedir-me ajuda mudava de passeio e deixava-o morrer!!

6 comentários:

MissangaAzul disse...

Minha querida, como eu entendo as tuas palavras.
Também vivi uma situação semelhante, com violência fisica mas principalmente com violência psicológica sempre presente.
Ele destroiu-me por dentro e por fora, foi preciso mais de um ano para eu conseguir levantar a cabeça e seguir em frente, mas ainda ontem quando pensei ver um carro igual ao dele, ainda senti arrepios de medo.
Sim, medo. Hoje já falo com a pessoa em questão, mas nunca, nunca o vou perdoar de muitas coisas que me fez e me disse.
Hoje estou com outra pessoa, hoje estou feliz, mas dentro de mim ainda existe uma parte que não consegue esquecer.
Apenas para dizer que sinto muito o que passaste, e tenho muita pena que haja mais pessoas que tenham passado mais ou menos pelo menos que eu passei.
Bem, eu vinha aqui só para te pedir a receita dos suspiros que dizes que fazes muito bem, mas o comentário descambou para outros lados.
Minha querida, obrigada pelas tuas visitas ao meu blog, serás sempre bem vinda!
beijinhos!

Leididi disse...

Bolas...que horror. E foi preciso tanto tempo para te libertares!Há pessoas completamente loucas, realmente...medo.
Mas hoje és feliz com o marido que te dá Lomos!;) (e isso é que interessa. Isso, e nunca mais voltar a cair no mesmo erro)

conchita disse...

Bravo!! Eu também deixava morrer esse monstro!!
Esquece e sê feliz :)

Rita disse...

Não sei o que diga sinceramente...

se dassss!
se 'ca' nojo!

se sei lá o quê! mas ainda bem que conseguiste mandá-lo pastar e que hoje estás bem!

beijos

dixubo disse...

xiçaaaaaaa.
Ainda bem que te livraste da abécula!!!

E, também eu, te compreendo muito bem....


xinhus

Maria Papoila disse...

Não há nada a dizer pois não? Depois disso fui e sou muito feliz!! Ora e é isso que se pretende!! =)

conchita:
Andavas escondida na moita!! Ainda bem que espreitaste para eu te ver. Bem-vinda!