Falta de diálogo

Como é possível que a Mummy se queixe da nossa extraordinária falta de diálogo e interacção e não compreende minimamente que, como mãe, teria de ser ela a criar essa capacidade enquanto eu crescia ao invés de estar preocupada em dizer coisas e fazer avisos que não contribuiram minimamente para a minha formação?
Agora passo por antipática porque simplesmente não tenho nada para lhe dizer: nem bom nem mau, nem simpático nem antipático, nem profundo nem corriqueiro. Não tenho nada para lhe dizer.
Isso não quer dizer que não a adore. ADORO. Mas como vou demonstrar isso se nunca foi criada entre nós uma relação de cumplicidade?
A minha mãe quer ser a minha melhor amiga, mas no entanto a sua falta de capacidade fez com que se limitasse apenas a ser mãe, esquecendo-se da parte da amiga.
Sempre fez tudo por mim, e sempre pretendeu que eu ficasse grata por isso. A culpa não é dela. A forma como foi educada, o sítio onde cresceu e o facto de as oportunidades que teve terem sido limitadas fez com que assim fosse. Mas no entanto, também não tem desculpa. A vida maritalmente feliz que tem tido, os sítios onde já foi e o marido e filhas que tem fazem com que tenha o dever de se desenvolver enquanto pessoa. Ser mais do que é.

Onde ficaram as brincadeiras? O apoio moral por causa das coisas mais ridículas do mundo? A partilha?
Nunca foi capaz de chorar com as minhas frustrações mais infundadas. Nunca as repeitou. Apenas se virava para mim e dizia-me para não ser parva, que essas coisas não faziam sentido.
Hoje sente-se triste. Sente-se inferior do que os outros e tem inveja dos que aparentam ter relações de cumplicidade com os filhos. Hoje a culpa é minha porque sou fria para ela, porque não converso com ela. Nunca se levanta a hipótese de ela não ter sido amiga, só mãe.

Ela falhou como mãe, eu falho como filha...