4.7.06

Se eu soubesse o que sei hoje....


Recebi este texto no mail. Não me representa a mim (uma vez que eu faço parte da estatística como apenas uma dos 60 mil professores sem colocação este ano e nos 3 anos subsequentes), mas representa a minha classe e, embora não leccione numa escola, tenho como função coordenar e apoiar a acção pedagógica de um ATL. É muito triste quando, em pleno local de trabalho, sou sujeita a este tipo de pressões por parte de quem não tem o mínimo de formação pedagógica. Mais triste é quando é o próprio Ministério da Educação a dar 'força' e pretextos para que essas pessoas o façam...

Ser Professor Em Portugal
Missão quase impossível

  • Esta é uma profissão em que a imensa maioria dos seus agentes trabalha (em casa e de graça, entenda-se) aos sábados, domingos, feriados, madrugada adentro e muitas vezes, até nas férias! Férias, sim, e sem eufemismos, que bem precisamos de pausas ao longo do ano para irmos repondo forças e coragens. De resto, é o que acontece nos outros países por essa Europa fora, às vezes com muito mais dias de folga do que nós: 2 semanas para as vindimas em Setembro/ Outubro, mais duas para a neve em Novembro, 3 no Natal e mais 3 na Páscoa , 1 ou 2 meses no verão.
  • É uma profissão que exclui devaneios do tipo hoje preciso de sair meia hora mais cedo, ou o corriqueiro volto já justificando a porta fechada em horas de expediente.
  • É uma profissão que não admite faltas de vontade e motivação ou quaisquer das 'ronhas' que grassarão, por exemplo, no ME (quem duvida?)ou na transparente AR.
  • É uma profissão de enorme desgaste. Ainda há bem pouco tempo foi divulgado um estudo que nos colocava na 2ª posição, a seguir aos mineiros, mas isto, está bom de ver, não convém a ninguém lembrar. E olhe que não, senhor secretário de estado, a escola da reportagem da RTP1 não é, nem de longe, caso único, circunscrito e controlado!
  • É uma profissão que há muito deixou de ser acarinhada ou considerada, humana e socialmente. Pelo contrário, todos os dias somos agredidos na nossa dignidade ou fisicamente (e as cordas vocais não são um apêndice despiciendo) , enxovalhados na praça pública, atacados e desvalorizados, na nossa pessoa e no nosso trabalho, em todas as frentes, nomeadamente pelo patrão que, passe a metáfora económica tão ao gosto dos tempos que correm ao espezinhar sistematicamente os seus empregados perante o cliente, mais não faz do que inviabilizar a venda do produto.
  • É uma profissão em que se tem de estar permanentemente a 100%, que não se compadece com noites mal dormidas, indisposições várias (físicas e psíquicas) ou problemas pessoais.
  • É uma profissão em que, de 45 em 45, ou de 90 em 90 minutos, se tem de repetir o processo, exigente e desgastante, quer de chegar a horas, quer de "conquistar" , várias vezes ao longo de um mesmo dia de trabalho, um novo grupo de 20 a 30 alunos (e todos ao mesmo tempo, não se confunda uma aula com uma consulta individual ou a gestão familiar de 1, 2, até 6 filhos...)
  • É uma profissão em que é preciso ter sempre a energia suficiente (às vezes sobre-humana) para, em cada turma, manter a disciplina e o interesse, gerir conflitos, cumprir programas, zelar para que haja material de trabalho, atenção, concentração, motivação e produção. (Batemos aos pontos as competências exigidas a qualquer dos nossos milionários bancários, dos inefáveis empresários, dos intocáveis ministros! Ao contrário deles, e como se não bastasse tudo o que nos é exigido (da discrepância salarial e demais benesses não preciso nem falar).
  • Ainda somos avaliados, não pelo nosso próprio desempenho, mas pelos sucessos e insucessos, os apetites e os caprichos dos nossos alunos e respectivas famílias, mais a conjuntura política, económica e social do nosso país!

  • Assim, é bom que a cara opinião pública" comece a perceber por que é que os professores "faltam tanto":
  • Para além do facto de, nas suas "imensas" faltas, serem contabilizadas também situações em que, de facto, estão a trabalhar :
  • - no acompanhamento de alunos em visitas de estudo,
  • - em acções, seminários, reuniões, para as quais até podem ter sido oficialmente convocados,
  • - para ficarem a elaborar ou corrigir testes e afins, que não é suficiente o tempo atribuído a essas tarefas ,
  • - ou, como vem sucedendo ultimamente, a fazerem (em casa, que é o sítio que lhes oferece condições) horas e horas não contabilizadas do obrigatório trabalho de escola.

  • Para além disto, e não é pouco, há pelo menos, como acima se terá visto, toda uma lista de 10 boas e justificadas razões para que o façam.
    Se é professor, sabe o quão verdadeiro é o texto acima registado.

    Se não é professor, creia que é verdade e apoie quem está a lutar simultaneamente pela dignificação da Carreira Docente e por uma educação de verdadeiro sucesso.


1 comentário:

Maria Papoila disse...

Fico muito mais feliz por saber! Ainda bem que estava enganada! Beijinhos =)